Do arquiteto: Arquitetura em lugares comuns. Antes são sítios, depois lugares, pois são conferidos de sentido e memória. Mas são deficitários das mais-valias que a urbanidade pode conferir e são ausentes na qualificação plena dos lugares. Transformam-se em lugares, porque plenos de intenção, estes são parcos em deixar vontades de partilha comum coletiva. São lugares comuns.
A arquitetura, que é plena de intenções, pode ambicionar e aspirar à sublimação desses lugares áridos e vagos. Sobretudo uma arquitetura que possa ser simples sem ser simplória e queira ser complexa sem ser complexada. E este era um lugar comum em São Domingos de Rana, sem ambição nem futuro, de relações ineficazes entre elementos passivos que povoam a paisagem.
A arquitetura em lugares comuns. Este é o pressuposto do centro de saúde. É em plenitude que se implanta, alvo e cândido, na circunstância de centralidade perante outros elementos construídos que enformam um cenário urbano de características amorfas. É de uma expressão arquitetônica que se afeiçoa aos princípios básicos da arquitetura, a forma e a massa, o grau de proximidade gravitacional com outras formas construídas, o grau de conformidade, de adequação e de conveniência da forma e da função, o grau de utilidade, a sombra sob a luz que o recorta e sublima. É um objeto curioso, face à materialidade sustentada em edifícios de carácter público, em que, sob a gravidade da função, sublima ironias e graus de surpresa diversos – o recorte das janelas e a sua falsa deslocação, os cheios que avançam e os vazios que se recolhem, o esqueleto que se descobre expondo a potência da estrutura.
Depois advém sob a luz a escada, revelando sombras dinâmicas e surpreendentes nas suas curvas e elementos oblíquos. O volume de acesso consiste em um grande portal no interior da forma que permite o exercício da função. Tem sido um erro na arquitetura contemporânea, desde a moderna, a ausência significativa da importância da porta, esse portal de acesso ao interior das formas projetadas. Tem sido portas acanhadas, envergonhadas, atípicas. Pelo contrário, esta exige direção, intencionalidade, formalidade. É uma entrada no pleno sentido do termo.
PROGRAMA
O local destinado à implantação do edifício situa-se numa zona já urbanizada do Bairro da Mata da Torre, bastante desinteressante do ponto de vista paisagístico, essencialmente pela presença da edifícios de origem clandestina ou de outros de promoção especulativa, comuns das zonas periféricas da região de Lisboa.
O programa funcional contempla a prestação de serviços de saúde Coordenação/Formação e apoios gerais, além de um parque que envolve o edifício.
O edifício apresenta 3 pavimentos acima do solo e um nível semi-enterrado. O último pavimento apresenta dois terraços abertos que constituirão, futuramente, áreas de expansão. Na fachada oeste foi criada uma nova escada de emergência, externa e metálica.